terça-feira, 26 de agosto de 2008

Meu penhoar será sua herança: a vida e outros penduricalhos de Zoroástrea Glamour - capítulo 4

Quando entrou, Óbvio não pôde acreditar no que viu. Sua deusa sentada na sala. A grande Zoroástrea Glamour ao lado de sua mesa de chá.

Quase chorou ao se aproximar, pensando em como sua vida estava agora completa, quão celestial era aquele dia, a singela manhã outonal. Abaixou-se para beijar a face esculpida pelos deuses: a gosma verde da jaca espalhada no rosto, misturando-se à base branca, à sombra azul, ao glitter violeta, ao batom carmim que já se confundia com o delineador verde e o blush rosa-queimado; não resistiu e lambeu-a.

Ficou encantado com a agilidade de sua reação: um soco e uma joelhada ao mesmo tempo, ambos direcionados a partes vitais de seu organismo. Enquanto rolava pelo chão, Óbvio pensava na precisão dos chutes que levava, na delicadeza das bordoadas daquelas mãos de princesa. Lágrimas brotavam de seus olhos, emocionados e já começando a inchar.

Zoroástrea o acusava de persegui-la, de fotografá-la nua enquanto fazia compras, de comer os restos de comida em seus pratos nos restaurantes, de roubar os dentes que deixava sob o travesseiro para a fada. Acusava-o e dizia que tinha provas, tinha encontrado a fita que ele roubara de Zoraide.

Ainda sangrando em êxtase, respondeu Óbvio que não era ele o culpado. Ele tinha sim roubado a fita, mas ela foi tomada pela seita dos Adoradores de Zoroástrea.

E seria uma honra levá-la até eles.

2 comentários:

Marcelo Maluf disse...

Grande Savio! Texto belíssimo! Ah! Eu te achei, hein, não te escondas! Já divulguei o teu blog lá no meu labirinto e te linkei! Lá no blog (certo?). Saudades de você, meu velho!

Ana Spin disse...

Aaaaaaaai, isso tá muito bom!! Você parece estar nadando numa boa por esse texto, sem se debater e espirrar água pros lados (e sem se afogar, o que é o mais importante)!
Keep swimming, Johnny writer!