sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Meu penhoar será sua herança: a vida e outros penduricalhos de Zoroástrea Glamour - capítulo 3

O culpado era óbvio. Óbvio Teotônio Zardella, seu ex-amante cleptomaníaco e sem grandes surpresas. A última vez em que se viram foi no dia em que a fita sumiu. E ele era um fã ardoroso de Zoroástrea: tinha todos os filmes, os CDs, as bonecas articuladas e as infláveis, o jogo de panelinhas da titia Zorô. Zoraide anotou seu telefone e endereço, além de suas posições preferidas e algo incompreensível envolvendo um cassetete e o último CD do Zeca Baleiro, caso fosse necessário.

Zoroástrea partiu ao amanhecer: ao meio, os pedaços de seu rosto ficaram espalhados sobre o travesseiro. Refez a maquiagem e foi embora.

Após muitas horas de procura e algumas voltas pela cidade, finalmente encontrou o endereço. Estava em seu bolso, escrito em um papel dobrado. Seguiu para lá.

Quem atendeu a porta foi Ranulfo Pimentel, colega de quarto de Óbvio e coadjuvante chato do Mickey. Reconheceu imediatamente a grande diva e convidou-a a entrar, dar três pulinhos num pé só e comer uma jaca. Ele deveria chegar a qualquer momento. Qualquer momento da história da humanidade, claro. Mas ela não tinha pressa: a vida é longa, a jaca é doce e o amor é um pássaro cego que lê rotas de vôo em braile. Sentaram e se lambuzaram.

Nenhum comentário: