quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quando fui premiado pelo conjunto de minha obra

Eram sirenes, tambores, trompetes. Eram janelas que batiam e portas que fechavam. Eram trovões e corações em disparada. Passos e pontapés, chutes e traições. Era demência e covardia.

Ouvi tiros, respingos, sussurros. Ouvi gritos e maldições. Juras de morte, preces, ouvi gemidos e clamores por um fim rápido e menos doloroso.

E estava cada vez mais próximo.

Eles procuravam o autor da história do rapaz da lanchonete, o pai da Zoroástrea e do monstro atrás da porta. Pretendiam me destruir, apagar o que escrevi, queimar minhas memórias e expor o meu cadáver.

Meus livros seriam torturados, meus contos açoitados, minhas palavras amordaçadas, minhas letras estranguladas.

Tentei fingir que era uma metáfora, tentei elipsar-me, mentir, desdizer, por fim corri. A multidão vinha e eu seria desfeito, não há perdão para quem contou tudo, sentiu o que não devia, falou o que ninguém poderia saber. Os erros de lógica, de métrica, de ritmo. O cinismo, a inverossimilhança, os clichês, a pretensão: não há clemência para quem é diferente de todos nós.

E eles me alcançaram.

Um comentário:

Claudio Brites disse...

Zoroastra, Zoroastra, seu nome é tão forte quanto a literatura que te rodeia.
abraços!